Nos últimos tempos, surgiram novos avanços para melhorar o desempenho e a saúde das vacas leiteiras. As áreas-chave para a melhoria do manejo reprodutivo incluem estratégias genéticas e nutricionais, controlo de doenças, pecuária de precisão e otimização da fertilidade dos machos. Cada um destes fatores tem o potencial de afetar positivamente a produção de leite, a saúde das vacas e a fertilidade.1
Dentre todos os fatores, a genética desempenha um papel crucial, não só para aumentar a produção leiteira, mas também para melhorar a saúde, o bem-estar e as características de manejo. Cada uma destas áreas pode contribuir significativamente para a rentabilidade e pode ser melhorada através da seleção genética.2
Estratégias genéticas para melhorar a reprodução
A intensificação dos sistemas de produção e a seleção genética direta para a produção de leite, combinadas com tecnologias modernas, têm melhorado significativamente a eficiência da produção. No entanto, este progresso trouxe consigo desafios consideráveis. A indústria leiteira deve continuar a aperfeiçoar os índices de seleção e os objetivos de criação atuais para dar maior ênfase a características como o bem-estar animal, a saúde, a longevidade, a sustentabilidade ambiental e a resiliência geral.3
O melhoramento genético é uma ferramenta poderosa para otimizar a sustentabilidade da produção leiteira, uma vez que os resultados são permanentes e cumulativos. A sua base é um programa de criação bem estruturado, com um objetivo claro e um registo sistemático de informação sobre o desempenho dos animais. Dentro desse programa, o uso de biotecnologias reprodutivas e moleculares pode acelerar ainda mais o progresso genético, impulsionando taxas de melhoria ainda mais rápidas.4
Tradicionalmente, foram utilizadas três estratégias principais para o melhoramento genético do gado bovino: a seleção entre raças ou linhagens, a seleção dentro das raças ou linhagens e o cruzamento entre diferentes raças. Ferramentas genéticas moleculares mais recentes estão a aperfeiçoar estas abordagens de seleção existentes através de técnicas avançadas como a seleção genómica e a edição genética.5
A seleção genómica oferece benefícios significativos para acelerar a melhoria genética em programas de criação de gado leiteiro. Aumenta a precisão e a intensidade da seleção, reduzindo o intervalo geracional, o que potencialmente duplica a taxa de progresso genético dos caracteres leiteiros economicamente importantes.6
A genómica ou edição genética permite-nos direcionar com muita precisão a adição, remoção ou substituição de pares de bases no código genético para influenciar as características de interesse.4
Para desenvolver uma estratégia genética otimizada numa exploração, é essencial avaliar os seus objetivos e identificar as características chaves que devem ser priorizados. A utilização de ferramentas de avaliação genética pode simplificar a interpretação da genética do rebanho, facilitando processos de tomada de decisão mais precisos.
Gestão nutricional e de saúde
A aplicação de estratégias nutricionais adequadas, a manutenção de protocolos sanitários rigorosos e a prestação de cuidados veterinários periódicos são fundamentais para garantir a produtividade sustentada e o bem-estar animal. As vacas necessitam de uma nutrição adequada em cada fase do crescimento e da lactação para manter uma produtividade máxima.1
As vacas secas são alimentadas com uma dieta pobre em hidratos de carbono e proteínas, mas rica em fibra. Durante o período de transição, o seu consumo de alimento costuma diminuir, o que pode levar a uma perda de peso excessiva, a uma redução da produção máxima de leite e a um maior risco de doenças pós-parto como metrite, retenção de placenta, cetose, deslocamento do abomaso e fígado gordo. As estratégias de gestão para as vacas em transição devem enfocar-se em ajudá-las a controlar o stress metabólico, otimizando a saúde de forma a minimizar esse stress, evitando mudanças de grupo e ração, estimulando o consumo de matéria seca e apoiando a função imunológica.8 Para as vacas em lactação, as rações devem equilibrar os altos níveis de energia e proteína para suportar a produção de leite e, ao mesmo tempo, promover a saúde e a motilidade ruminal ótimas.
Para otimizar a eficiência reprodutiva, é fundamental monitorizar e avaliar continuamente o estado sanitário do rebanho em busca de patógenos. Sabe-se que infeções como Coxiella burnetii, diarrea viral bovina e herpesvirus reduzem as taxas de conceção; por outro lado, a Neospora caninum e outros vírus emergentes, como a Língua azul, podem causar perdas fetais e abortos. A implementação de planos de biossegurança, incluindo os protocolos de vacinação, também é crucial para prevenir a introdução e propagação de novos patógenos no rebanho.
BIBLIOGRAFIA
- 1 Crowe, MA, Hostens, M. e Opsomer, G. (2018). Manejo reprodutivo em vacas leiteiras: o futuro. Irish Veterinary Journal, 71(1), 1.
- 2 Winters M., Diretor de Genética Animal, Relatórios de Criação, Conselho de Desenvolvimento da Agricultura e Horticultura (AHDB).
- 3 Brito LF, Bedere N, Douhard F, Oliveira HR, Arnal M, Peñagaricano F, Schinckel AP, Baes CF, Miglior M. Seleção genética de gado leiteiro de alto rendimento em direção a sistemas agrícolas sustentáveis em um mundo que muda rapidamente. Animal 2021;15 (supl. 1).
- 4 Mueller ML, Van Eenennaam AL. 41 Discurso do vencedor: Explorando a sinergia entre a seleção genômica, as tecnologias de reprodução assistida e a edição genética para acelerar o progresso genético na pecuária bovina. J Anim Sci. 2022;100(Suppl 3):10–1.
- 5 Pryce, JE, Egger-Danner, C y Simm, G. Estratégias e ferramentas para a seleção genética em bovinos leiteiros e sua aplicação na melhoria do bem-estar animal. Bienestar del ganado en sistemas lecheros y de carne: un nuevo enfoque para cuestiones globales. Bienestar animal 2023;23: 323-348.